Nos últimos tempos ando pensando sobre o meio que trabalho,
mais precisamente sobre jornalismo infográfico, ou jornalismo visual, tenho
refletido sobre questões simples que parecem não ter uma respostas definitivas,
entre elas voltei-me para um fato que não é discutido nem sequer pensado pela
maioria de nós (infografistas).
A questão: ética profissional.
Não me lembro desde que iniciei na área jornalística ouvir
alguém discorrer sobre isso, o que me leva a pensar: infografistas usam que código
de ética?
Acredito que o código deva ser o mesmo dos jornalistas de
texto, no mínimo.
Para quem não conhece o link é:
Uma leitura detalhada me levou até o capítulo II (conduta
profissional do jornalista), artigo 6º, parágrafo IX que diz:
IX - respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista
em todas as suas formas;
Somos parte do jornalismo, então pressuponho que este
parágrafo sobre respeito autoral e intelectual deve ser a base para a
infografia jornalística. Respeito ao direito autoral e intelectual do
jornalista em todas as suas formas inclui pensamento, texto, fotografia e
infografia em todas as suas formas também, de gráficos a mapas. Porém isso
levanta algumas questões:
- Se copiar um texto pode render demissão, por que aceitamos
um “print” para copiarmos?
- Por que aceitamos copiar?
- Por que isso parece comum?
Ninguém copia um texto literalmente, ninguém publica uma
foto sem autorização, mas copiar ilustrações que compõe uma peça infográfica ou
até um infográfico completo é corriqueiro.
O que leva a essa falta de ética tão descarada?
Uma das expressões mais em uso ultimamente é benchmark, o
que significa copiar e não usar como inspiração, aliás a própria palavra
inspiração já virou sinônimo de cópia ou
apropriação dá idéia.
A pouco tempo atrás fiquei assustado com um post do Alberto
Cairo no seu site:
WHY IS
INFOGRAPHICS PLAGIARISM SO COMMON? (Por que plágio em infografia é comum?)
Alberto Cairo trouxe um caso de “coincidência” de dois
infográficos sobre o caso dos mineiros soterrados no Chile. Um foi publicado
pelo jornal O Estado de São Paulo e outro pelo jornal italiano La Stampa. Em
seu post ele discorre sobre as similaridades de ambos, mas destaca que o
Estadão foi publicado antes. Com um olhar atendo nas imagens se vê claramente
que não houve inspiração, mas sim cópia. Alberto chegou ao detalhe de desenhar
em vetor por cima do trabalho do Estadão e depois posicionou (o vetor) por cima
do trabalho do La Stampa, e assim entendesse que o traço do desenho é o mesmo,
nos mínimos detalhes, que eu isso sugere?
Para mim que infografo e ilustro profissionalmente há 22 anos, é uma
cópia.
Foram dois desenhos absolutamente iguais, mas quem fez antes
é o autor inicial, mas o fato mais absurdo é que ambos os trabalhos
participaram do SND (Society for News Design) evento que premia anualmente
trabalhos na área gráfica e digital (jornais e revistas), porém o La Stampa
ganhou um Award (prêmio de reconhecimento) e o Estadão não.
Como pode ocorrer algo assim?
Como pode o La Stampa ganhar com um trabalho igual ao que o
Estadão fez antes?
Esse fato caiu como uma bomba no meio infográfico, mas qual
será a atitude da SND se além de já ter premiado já imprimiu e distribuiu o
livro com a imagem dos vencedores?
Será que vamos ter segundo clichê do livro?
Será que veremos uma retratação publica e o prêmio dado ao
Estadão?
Esse é o exemplo mais gritante de falta de ética dos últimos
tempos. Quando aconteceu o acidente dos mineiros chilenos todos os
departamentos de infografia do mundo correram atrás de informação, os jornais
La Tercera e o El Mercúrio tinham as melhores condições para obter informações,
e me lembro do Alberto Cairo entrando em contato com os chefes de infografia de
ambos para pedir autorização para utilizar informações que eles (in loco)
haviam conseguido.
Essa atitude dele e a autorização dos dois jornais nos deram
informações valiosas para usarmos em nossos infográficos, usamos as informações
mas não copiamos nada (graficamente), e além disso em nosso trabalho demos o
crédito a ambos os jornais.
Veja o post sobre esse assunto em:
Eu mesmo já vi muitos trabalhos meus sendo utilizados na
íntegra em vários sites, não sei absolutamente como isso pode ser evitado mas é
fato que hoje em dia é corriqueiro as pessoas utilizarem trabalhos dos outros
de forma continua. O que não entendo é como infografistas profissionais fazem
isso de forma natural. Mas, tenho certeza que ninguém aprecia ver seus
trabalhos copiados.
Há alguns anos atrás aconteceu um caso inusitado, eu estava
em uma redação discutindo um infográfico com o designer, quando o diretor de
arte me chamou em sua sala, na sua frente estava uma série de infográficos. Ele
me perguntou se eu conhecia trabalho deste infografista que ele estava
atentamente olhando, para minha supresa todos os infográficos eram meus, porém
devidamente creditados com outro nome.
O próprio diretor me disse que havia me chamado por esse
motivo, pois sabia que eram meus os trabalhos.
O que posso dizer desse caso?
Vou mais longe como posso olhar o autor desse roubo?
Copiar não é usar como referência, apropriar-se de algo criado
por alguém também não, ser infografista é ser jornalista visual e isso inclui o mesmo
código de ética, acho ainda que deveríamos ter um código de ética do
profissional de infografia, pois assim como o jornalismo tradicional possui
suas características o jornalismo infográfico também tem suas particularidades.
Um outro tipo de problema comum nos infográficos é a falta
de critério e precisão com a informação, tópico do próximo post.
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