domingo, 1 de abril de 2012

Ética infográfica


Nos últimos tempos ando pensando sobre o meio que trabalho, mais precisamente sobre jornalismo infográfico, ou jornalismo visual, tenho refletido sobre questões simples que parecem não ter uma respostas definitivas, entre elas voltei-me para um fato que não é discutido nem sequer pensado pela maioria de nós (infografistas).
A questão: ética profissional.
Não me lembro desde que iniciei na área jornalística ouvir alguém discorrer sobre isso, o que me leva a pensar: infografistas usam que código de ética?
Acredito que o código deva ser o mesmo dos jornalistas de texto, no mínimo.

Para quem não conhece o link é:

Uma leitura detalhada me levou até o capítulo II (conduta profissional do jornalista), artigo 6º, parágrafo IX que diz:

IX - respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas;

Somos parte do jornalismo, então pressuponho que este parágrafo sobre respeito autoral e intelectual deve ser a base para a infografia jornalística. Respeito ao direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas inclui pensamento, texto, fotografia e infografia em todas as suas formas também, de gráficos a mapas. Porém isso levanta algumas questões:

- Se copiar um texto pode render demissão, por que aceitamos um “print” para copiarmos?
- Por que aceitamos copiar?
- Por que isso parece comum?

Ninguém copia um texto literalmente, ninguém publica uma foto sem autorização, mas copiar ilustrações que compõe uma peça infográfica ou até um infográfico completo é corriqueiro.
O que leva a essa falta de ética tão descarada?
Uma das expressões mais em uso ultimamente é benchmark, o que significa copiar e não usar como inspiração, aliás a própria palavra inspiração já virou  sinônimo de cópia ou apropriação dá idéia.
A pouco tempo atrás fiquei assustado com um post do Alberto Cairo no seu site:
WHY IS INFOGRAPHICS PLAGIARISM SO COMMON? (Por que plágio em infografia é comum?)
Alberto Cairo trouxe um caso de “coincidência” de dois infográficos sobre o caso dos mineiros soterrados no Chile. Um foi publicado pelo jornal O Estado de São Paulo e outro pelo jornal italiano La Stampa. Em seu post ele discorre sobre as similaridades de ambos, mas destaca que o Estadão foi publicado antes. Com um olhar atendo nas imagens se vê claramente que não houve inspiração, mas sim cópia. Alberto chegou ao detalhe de desenhar em vetor por cima do trabalho do Estadão e depois posicionou (o vetor) por cima do trabalho do La Stampa, e assim entendesse que o traço do desenho é o mesmo, nos mínimos detalhes, que eu isso sugere?
Para mim que infografo e ilustro profissionalmente há 22 anos, é uma cópia.
Foram dois desenhos absolutamente iguais, mas quem fez antes é o autor inicial, mas o fato mais absurdo é que ambos os trabalhos participaram do SND (Society for News Design) evento que premia anualmente trabalhos na área gráfica e digital (jornais e revistas), porém o La Stampa ganhou um Award (prêmio de reconhecimento) e o Estadão não.
Como pode ocorrer algo assim?
Como pode o La Stampa ganhar com um trabalho igual ao que o Estadão fez antes?
Esse fato caiu como uma bomba no meio infográfico, mas qual será a atitude da SND se além de já ter premiado já imprimiu e distribuiu o livro com a imagem dos vencedores?
Será que vamos ter segundo clichê do livro?
Será que veremos uma retratação publica e o prêmio dado ao Estadão?
Esse é o exemplo mais gritante de falta de ética dos últimos tempos. Quando aconteceu o acidente dos mineiros chilenos todos os departamentos de infografia do mundo correram atrás de informação, os jornais La Tercera e o El Mercúrio tinham as melhores condições para obter informações, e me lembro do Alberto Cairo entrando em contato com os chefes de infografia de ambos para pedir autorização para utilizar informações que eles (in loco) haviam conseguido.
Essa atitude dele e a autorização dos dois jornais nos deram informações valiosas para usarmos em nossos infográficos, usamos as informações mas não copiamos nada (graficamente), e além disso em nosso trabalho demos o crédito a ambos os jornais.

Veja o post sobre esse assunto em:

Eu mesmo já vi muitos trabalhos meus sendo utilizados na íntegra em vários sites, não sei absolutamente como isso pode ser evitado mas é fato que hoje em dia é corriqueiro as pessoas utilizarem trabalhos dos outros de forma continua. O que não entendo é como infografistas profissionais fazem isso de forma natural. Mas, tenho certeza que ninguém aprecia ver seus trabalhos copiados.
Há alguns anos atrás aconteceu um caso inusitado, eu estava em uma redação discutindo um infográfico com o designer, quando o diretor de arte me chamou em sua sala, na sua frente estava uma série de infográficos. Ele me perguntou se eu conhecia trabalho deste infografista que ele estava atentamente olhando, para minha supresa todos os infográficos eram meus, porém devidamente creditados com outro nome.
O próprio diretor me disse que havia me chamado por esse motivo, pois sabia que eram meus os trabalhos.
O que posso dizer desse caso?
Vou mais longe como posso olhar o autor desse roubo?
Copiar não é usar como referência, apropriar-se de algo criado por alguém também não, ser infografista é ser jornalista visual e isso inclui o mesmo código de ética, acho ainda que deveríamos ter um código de ética do profissional de infografia, pois assim como o jornalismo tradicional possui suas características o jornalismo infográfico também tem suas particularidades.
Um outro tipo de problema comum nos infográficos é a falta de critério e precisão com a informação, tópico do próximo post.

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