domingo, 5 de agosto de 2012

Estética de precisão

Infografistas costumam categorizar infográficos da seguinte forma:

Matador, impressionante, impactante, fud..., entre outros termos, eles são avaliados e relacionados a forma final, ou seja como foi "embalado" para publicação. Algumas vezes a imagem é tão fascinante que os detalhes da informação passam despercebidos, ou sequer notados.

Ainda que a infografia esteja evoluindo conceitualmente somos apaixonados pela harmonia do design, mas ao atingir esse nível de excelência visual por vezes a informação fica relegada a um coadjuvante do trabalho. A alguns dias atrás quase caímos (eu e o pessoal da infografia da Época) nesta tentação, tínhamos nas mãos uma pauta que nos levou a uma solução visual bastante interessante e elegante estéticamente, porém a pauta sofreu alterações, e o formato que havíamos garimpado ficou quase sem função. Após muita discussão decidimos manter a idea perfeita, porém fui acusado (pela consciência) por uma frase do Alberto Cairo que está gravada no meu cérebro:

A forma segue a função!

Esse foi o motivo que me motivou a discutir e defender (minha consciência) até abandonamos a forma perfeita para que a objetividade e efetividade fossem mantidas, e por falar em efetividade é isso que gostaria de considerar.

Quando nos interessamos em ingressar na infografia, somos cativados (quase que inconscientemente) pela forma, design, ilustrações e outros elementos visuais (acredito que grande parte se aproxime pela virtuosidade das imagens), mas quando se é efetivado no setor a parte da imagem esquecemos os passos que antecedem o design.

Nesse caso a infografia pode se tornar um fardo para quem não tem o espírito invetigativo e encarar muitas horas em busca de informações, números e empreender mais esforço ainda em traduzir corretamente a pauta. Ao observar as informações que são necessárias para um info de economia o aspirante a infografista pode ser supreendido por algo que nem de longe se parece com a área profissional que ele escolheu.

Um infográfico sobre física teórica, exige conhecimento de física e muita disposição em traduzir conceitos abstratos de forma clara,

A partir deste raciocínio é natural que alguns processos do universo infográfico sejam áridos, se o foco for produzir apenas belas imagens e não notícias. Um infografista por essência deve ter o gene do jornalista, ser um investigador nato, que "escreve" sua matéria com imagens, conceitos e cores.

O talento deve estar alinhado ao conhecimento multidisciplinar assim como é a infografia, e conforme os conceitos desta disciplina evoluirem os mais preparados serão os mais efetivos.

Hoje temos infografistas se aperfeicoando em jornalismo e estatística, aos poucos a infográfia dos anos 90 (onde a ilustração era o mais importante) está perdendo a força, isso não quer dizer que os infográficos são menos estéticos, pelo contrário, nunca foram tão estéticos, mas com conteúdo.

A crítica não é dirigida a imagem, mas sim a imagem sem relação, a imagem pela imagem sem fundamentação, a imagem que não exprime o lide, a imagem que ignora a pauta. Um infográfico que só utilize de imagens perfeitas mas não tenha conteúdo se torna incipiente não cumprindo sua função, informar.

A internet está repleta de trabalhos que representam os dois lados a beleza X informação, mas poucos são efetivos nos dois quesitos, como se fossem grupos que defendem sua posição. Um grupo gasta a maior parte do tempo na imagem enquanto outro disseca a informação, particularmente eu entendo que é possível obter os dois em um único trabalho.

Quando falamos de obter informação temos de ser objetivos, se a imagem altamente trabalhada não obscurecer a informação então ela deve ser usada. Vejo a informação como um produto e o leitor como consumidor deste produto, então partindo deste raciocínio quem consome quer obter qualidade em todos os níveis, da qualidade da informação a qualidade da imagem final.

A Ferrari produz carros com design impecável, porém sua forma tem uma função específica: fluidez aerodinâmica e velocidade. A Apple produz celulares, computadores e softwares com design esmerado buscando a perfeita interação entre o usuário e máquina. Esses são dois exemplos de estética de precisão, onde a função do produto também é determinada pela sua estética.

O consumidor ficou exigente, a infografia é um produto de informação, então ela também deve aliar os mesmos conceitos, primeiro buscar a precisão e depois produzir a melhor forma para atender o objetivo.