terça-feira, 13 de novembro de 2012

Jornalistas e infografistas: uma relação de amor e ódio.

Artigo originalmente produzido para o Visual Loop

As batalhas conceituais e os pontos de vista pessoais nas redações.

O espaço editorial disputado com inteligência é um ótimo campo para que propostas inovadoras se consolidem. A edição em conjunto produz material de alto nível, o The New York Times e a National Geographic são exemplos desta prática, com a colaboração de profissionais de diferentes áreas (e não apenas com infografistas e jornalistas) fazendo história.


Mas como convivem infografistas e jornalistas em outras redações? Neste artigo, falo do meu ponto de vista de infografista, mas sem evitar algumas questões são inconvenientes para nós, como postura, comprometimento, e formação.

Infografia é resultado de trabalho cooperativo e multidisciplinar, mescla apuração, análise e críticas conjuntas entre repórter, editor e logicamente o infografista. A interação entre estes profissionais permite um olhar mais amplo sobre o mesmo assunto, como uma junta médica composta por especialistas que avaliam os procedimentos e decisões. Podemos usar a mesma analogia, uma vez que cada infográfico é único em sua concepção.

Dentro deste cenário, um tema pouco discutido é a relação (nem sempre cordial) entre jornalistas x infografistas.

De relações cooperativas e construtivas a unilaterais e improdutivas, o infográfico é uma obra jornalística que sempre instiga o debate, e estes podem ser, claro, amistosos ou hostis.

Trabalhos discutidos amistosamente representam o cenário ideal, como céu azul para o piloto de avião ou o mar liso para o capitão de um navio. Tempo perfeito e stress zero. Porém, esta não é a regra das relações entre jornalistas e infografistas.

O atual momento da infografia exige posicionamento proativo de ambos, o que por muitas vezes gera muito material, inúmeras abordagens para a mesma pauta. Aqui temos o cenário ideal para que cada profissional defenda seu ponto de vista, muitas vezes de forma irredutível.

Anos atrás, o infografista era (em essência) o responsável por “embalar” gráficos, tabelas ou “pseudoinfográficos”. Esta forma de trabalho colocava o jornalista na confortável posição de autor e consumador da informação, como um guru que detinha o direito e palavra final sobre a informação e qualquer oposição contrária era facilmente rechaçada.

Os anos passaram, os conceitos da infografia evoluíram (e ainda estão evoluindo) e os infografistas também. A necessidade de compreender e contribuir efetivamente com a notícia transformou infografistas em jornalistas infografistas. Assim começaram os investimentos pessoais em cursos de jornalismo, conferências sobre comunicação, aulas de estatística e uma infinidade de incursões por disciplinas (muitas vezes) opostas à formação básica em design.

Este “upgrade” profissional colocou finalmente frente a frente o jornalista tradicional e o jornalista visual com opiniões muito diferentes. Essas opiniões geraram discussões, e estas ganharam volume e relevância. As redações nunca mais seriam as mesmas.

Batalhas conceituais e pontos de vista pessoais começaram a ser demolidos um a um. Eu particularmente acredito que (se não fosse utópico) o mundo ideal seria um em que o  jornalista também pudesse passar por um “upgrade” profissional e aprofundasse seu conhecimento em design de informação.

Mas ainda temos um entrave histórico, o peso político do jornalista. A última instância de decisão ainda é do “homem de texto”. E o que isso gera? Invariavelmente a sensação que infografista é um jornalista de segunda classe.

Em muitos casos esta cultura é verdadeira, pela simples omissão de infografistas que não exercem o que se espera deles, por vezes se comportam somente como infografistas e não como jornalistas infografistas. Numa simples conversa, um repórter ou editor diferencia um do outro. Uma simples conversa é o suficiente.

Assim se estabelecem os encargos profissionais entre jornalista e infografista. O máximo de autoria será novamente no design. Mais do mesmo.

Venho de uma geração que era feliz em produzir “visuais legais”, esse era o motivo do meu inconformismo, sempre estava disposto a propor e era dissuadido com repostas como:
Não dá para fazer isso.
Ninguém tem essa informação.
Isto não está no lide da matéria.
Vai dar muito trabalho para apurar e não temos tempo para isso.


Aliás, esta última frase ainda está no top 5 dos argumentos mais rotineiros. Um resquício dos tempos de domínio total do jornalista com suas fontes guardadas a sete chaves. O jornalista era o senhor absoluto da informação. Nenhum infografista tinha fontes, foi nesta época que iniciei minha lista particular.

Hoje é fácil criar uma lista com boas fontes, encontrar as pessoas certas, empresas e profissionais de qualquer setor podem ser achados, e o melhor, eles estão dispostos a colaborar. Tenho fontes entre engenheiros, médicos, zootécnicos, analistas de mercado, tecnólogos, físicos teóricos, em suma para se montar uma agenda confiável basta prospectar.

A relação entre infografista e jornalista.

Trabalhos produzidos com igualdade de decisão nunca decepcionam. É indiscutível a quantidade de bons trabalhos produzidos nessa sinergia, e a consequência final é o Leitor satisfeitos. Então o que impede este modelo ser a regra nas redações?A resposta é simples: Prisão a usos e costumes.

Mesmo em locais onde esta relação está estabelecida os embates são frequentes:

- O leitor não está interessado nisto.

Quando ouço isso costumo responder:

- Você poderia me enviar este estudo?


Ou:

- Quem conduziu este estudo?

Isso funcionou até os anos 90, hoje a ingenuidade é uma escolha não padrão.

O domínio sobre informações como ciência e tecnologia não é mais privilégio de alguns, com poucos cliques (por exemplo) você está no site da Nasa diante de toda informação que quiser. Informações que antes levariam semanas para serem apuradas estão acessíveis em dez minutos.

Algumas vezes infográficos emperram por excesso trabalho de repórteres apurando várias matérias ao mesmo tempo, isso prejudica muito a qualidade da informação.

Um texto pode ficar ruim, mas se preencher o espaço, então beleza! Isto foi repassado para os infográficos. Vale a cultura do:

- Vamos fechar!

Um bom infográfico (assim como uma matéria) necessita de conteúdo de qualidade. A consequência de não pensar assim é visível nos trabalhos superdimensionados, muitos publicados em página dupla e que caberiam honestamente em uma coluna. Um infográfico vazio é detectável até por quem não sabe nada de infografia.

Aqui cabe ao infografista fazer a diferença, ainda que repórter ou editor diga que não possui mais informações. Já fiz e faço isso constantemente, vou atrás. Mas tudo tem um preço, discussões e stress.

Por vezes acabei sendo apoiado em instâncias superiores a repórteres a editores, pelo simples fato de ter material mais consistente que o autor da matéria, mas isso gera atritos.

O empreendedorismo infográfico não é bem visto por jornalistas quando:
Querem sombra e água fresca.
Vivem o sucesso profissional.
Estão em evidência.
Não acreditam na infografia.
É vista como concorrente de seu texto.
Consideram a infografia muito trabalhosa.
Acreditam que o texto solitariamente dá conta do recado.


Mas a proatividade do infografista é bem vista quando o jornalista:
Não quer sombra e água fresca.
Vê o sucesso da matéria e não apenas o pessoal.
Quer continuar em evidência e está disposto a evoluir sua forma comunicação.
Acredita na infografia ou estão abertos a discutir.
Independente do trabalho acredita no resultado.
Sabe que o texto junto com a infografia terá um resultado mais profundo.


No próximo artigo a conclusão sobre a convivência entre jornalistas e infografistas.

Um comentário:

  1. Como não achei outra forma para me contatar com vc.... segue o pedido de desculpas pelo uso das imagens, e peço para que volte a conferir o blog onde postei os devidos créditos. Espero que esteja do seu agrado, mas se por alguma razão quiser que simplesmente seja tudo removido, favor entrar em contato, que removerei tudo prontamente.

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