segunda-feira, 9 de abril de 2012

Infografia especializada

Essa foi a tônica de uma conversa durante um almoço com alguns colegas de trabalho, entre eles Alexandre Lucas, Daniel Pastori e Luiz Salomão.

Partindo do jornalismo tradicional (texto), o assunto foi enveredando pelos comparativos entre infografia e jornalismo. É natural que um jornalista acabe se especializando em alguma área de seu interesse, conheço vários que não apenas conhecem determinada área, mas se tornam referência.
Existem também profissionais como economistas, físicos, biólogos que fazem o caminho inverso e acabam se especializando em jornalismo, então temos biólogos/jornalistas e jornalistas/biólogos.
Seria possível existir especialização para a infografia?
Vejo exemplos fora do Brasil que mostram que esse caminho é possível, redações como as do NYT ou National Geographic, possuem em suas equipes exatamente essa variedade de profissionais, cada um com um talento ou especialidade específica. Essa realidade, porém não se reflete em todas as redações no mundo, mesmo em países desenvolvidos isso não é comum.
Mas, isso é possível no Brasil?
De forma geral todas as equipes de infografia possuem profissionais com características bem definidas, alguns têm um senso estético apurado, outros, capacidade de organizar, ilustrar, compreender, empreender, apurar, e uma série outras capacidades. Também é senso comum que o melhor de cada profissional seja utilizado para produzir o melhor material final possível. Isso também é uma regra aplicada quando o infografista é freelancer, muitas vezes fui chamado para produzir 3D, ilustrações e afins principalmente para revistas que têm um cunho científico.
Mas existe alguém especializado em alguma área específica de infografia?
Não conheço um paleontólogo infografista, mas conheço um ilustrador paleontólogo, esse profissional não desenvolve um trabalho de ilustração para a paleontologia ele desenvolve a área de paleontologia através do seu trabalho de ilustração.
John Gurche, esse é o nome do artista, ou melhor como ele se auto-denomina Paleo-Artist, porém ele não apenas ilustra trabalhos de paleontologia, ele pesquisa em sítios arqueológicos ao redor do mundo e através de muita disciplina em anatomia comparada e conhecimentos sólidos em paleontologia ele começou a trazer a vida (inicialmente) dinossauros de todos os períodos, répteis, aves até chegar a anatomia dos macacos e primeiros humanóides como australopitecos, e Neanderthais, Homo Herectus (entre muitos outro).
O que chama a atenção ao ver seu trabalho é o realismo, porém isso não é fruto apenas de técnicas refinadas de desenho e pintura, mas sim de precisão absoluta em anatomia comparada. Li muito sobre ele e descobri que seu trabalho além de muito respeitado é referência para pesquisas e trabalhos que não existiriam sem sua dedicação em buscar a perfeição descritiva, ou melhor, ilustrativa. Vale à pena conhecer seu trabalho, aproveite e veja as cenas com dinossauros, absolutamente incrível, ainda mais se pensarmos que tudo que ele pintou foi com técnicas tradicionais. Apenas como referência ele fez as imagens das cenas do Museu de história Natural America, Documentários para Smithsonian Museum, National Geographic e BBC.
Mas e na infografia é possível existir especialização?
Temos um exemplo brasileiro interessante e contundente.
Erika Onodera.
Ela é conhecida por todos que trabalham com infografia ou ilustração, virou referência quando se fala sobre ilustrações médicas, anatômicas e similares. Considero seu trabalho inspirador. O caso dela não é uma questão de estilo mas de dedicação a um determinado ramo, no qual ela tem conhecimento de sobra, ou seja ela não ilustra apenas, mas seu trabalho é primordial para compreensão. Entendo que ela é tão especializada quanto qualquer editor especializado em saúde.
Mas especialização é crucial?
Sempre tendemos a nos interessar ou a produzir com mais facilidades para certas editorias. Eu me identifico muito com matérias de ciência, porém não faço isso em tempo integral. Acho que uma dose de especialização (em meu caso) é interessante, mas não como único foco.
O ponto crucial é que não há espaço suficiente para especializados e sim para os multidisciplinares, os quadros redações são enxutos demais especializados, a procura atual é em busca do profissional multifacetado, que pode agir em diversas frentes, da economia a física. A busca e pelo infografista jornalista, que conhece e produz conteúdo jornalístico.
Ainda é muito cedo para dizer se os especialistas surgiram em maior número, mas assim como jornalistas se especializam, acredito que infografistas especializados ainda encontrarão espaço para desenvolver seu trabalho, assim como a Erika Onodera.

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