terça-feira, 27 de março de 2012

Fazer e pensar infografia


Ao longo dos 22 nos que trabalho com infografia interagi com muita gente de redação, de jornalistas a arte-finalistas (existia essas profissão nos início dos anos 90) de repórteres a ilustradores, de revisores a cartunistas. Uma gama imensamente variada de conhecimentos, estilos, modo de vida e logicamente opiniões.
Considero que essa ampla variedade foi decisiva para minha formação, considero que esse “caldeirão” múltiplo é seguramente responsável por 90% de como penso hoje sobre infografia, ainda que o mundo fora redação não tenha idéia do que é um infografista sinto que ser um me dá oportunidade de exercer uma profissão singular, e isso no mundo atual é uma exceção. O universo da infografia, mesmo sendo minúsculo é fervilhante nos debates acalorados, com questões que vão do famoso estético ou analítico da discussão semântica infográfico ou infografia, e também da expressão arte significar infografia.
Neste cenário a profissão se apareceu, evoluiu, mas ainda não se explicou plenamente.
Infografia é jornalismo?
É arte?
É design de informação?
Nos não muitos materiais publicados sobre infografia existem opiniões absolutamente opostas, e assim sendo não existe consenso. O ponto de une todas as opiniões é:
A infografia veio para ficar.
Independente da plataforma, impressa ou digital, é fato que ela cresce continua e expressivamente e não existe nada que indique retração, assim sendo estamos diante de alguns impasses, porém vou me ater a apenas um deles.
Se uma área cresce, é natural que os profissionais que vivem dela se especializem em conceitos e ferramentas para obter resultados que venham a alavancar sua profissão. Partindo desta premissa, então a questão primordial é:
Os infografistas estão se especializando em quê?
Conceitos ou ferramentas de produção?
Tenho participado de algumas conversas que me motivaram a meditar sobre a forma como nos preparamos. Falo com quem como eu respira infografia todos os dias, mas que a cada novo trabalho se defronta com conceitos subjetivos.
Quem nunca ficou frustrado ao idealizar um trabalho, no qual todos os passos como pauta, conceito, hierarquia, informação e narrativa foram atingidos plenamente, porém este esforço se mostrou inútil durante o processo de edição?
Em muitas conversas que tive com Alberto Cairo falamos sobre isso e entendo que o maior problema reside de fato nos próprios infografistas, e aí eu me incluo.
Nós fazemos ou pensamos infografia?
Nós fazemos jornalismo ou arte?
O debate jornalismo ou arte acaba sempre desembocando em expressões que não geram nenhum resultado prático. O fato é simples trabalhamos em jornais e revistas que são empresas jornalísticas, ou seja produzimos material jornalístico, e como tal devemos entender o processo.
Sendo assim, então todos os infografistas pensam jornalisticamente?
Presenciei muitos casos em que o jornalista responsável, seja ele repórter ou editor não apenas mostraram que a linha de raciocínio do infografista estava errado como era completamente subjetivo. Argumentos como bonito, impactante, compor, e equilibrar eram facilmente refutados pois não tinham fundamentação.
Em muitos casos o repórter estava correto, mas naqueles em que não estava utilizava o histórico a seu favor para conduzir conforme sua visão. Em simples palavras muitos não acreditam na capacidade jornalística dos infografistas.
A cultura centenária das redações ainda é a dos textos acima de qualquer outra forma.
Jornalistas formulam, infografistas executam.
O maior exemplo que vi foi um jornalista decidir as cores, espessuras de fio e a qualidade das ilustrações que compunham o infográfico, o mais curioso é que ele foi atendido prontamente. Isto demonstra que ainda que um jornalista não tenha nenhum conhecimento técnico sobre design, hierarquia visual, composição ou teoria da cor ele detém a opinião final.
Como então podemos debater sobre assuntos de seu domínio como pauta e apuração?
Sendo jornalistas.
Conhecendo os conceitos com a mesma profundidade.
Não se debatem idéias sem preparo, não se discute jornalismo sem conhecer jornalismo.
Quando me deparo com frases como:
infografistas não tem que fazer pauta, isso é trabalho para a redação. Com a nítida afirmação que não somos.
Na maioria das redações do Brasil e do mundo a infografia é um braço da editoria de arte, até aí nada de errado, mas esse fato reforça que infografia é um crossover nas redações, não é jornalismo em sua totalidade nem arte. Por conseqüência vejo o mesmo em relação a profissão de infografista, não é jornalista nem artista.
Esse é o grande desafio, estabelecer o jornalismo visual,
Aprecio imensamente o jornalismo, e apesar de não ser um com formação acadêmica me considero um. É imensamente gratificante pensar da pauta ao infográfico pronto, produzindo em todas as etapas, mas não solitariamente, a infografia é também exercício de sinergia, assim como o jornalismo tradicional. Não existe matéria produzida por apenas uma pessoa, durante sua apuração e edição é comum ver jornalistas discutindo profundamente detalhes, pontos de vista e viés.
A infografia por ser multidisciplinar é um laboratório a cada trabalho, desperdiçar o pensamento coletivo é limitar o potencial de um trabalho.
Antes de tudo é necessário uma reflexão individual sobre que tipo de infográfico produzimos, e qual é minha atividade como infografista.
Acho que podemos dividir em três níveis distintos:

1) Passivo
Seria o que nos anos 90 chamávamos de arte finalista. Recebe um trabalho que já foi idealizado por alguém, mas a atividade se resume a organizar, sendo o infografista apenas um profissional que organiza e deixa “bonito” (expressão popular nas redações).

2) Pró-ativo
Recebe uma pauta escrita e definida, mas pesquisa para encontrar algo além do que foi proposto. É o profissional que confronta, tenta somar e analisa as possibilidades, que sempre acredita que existe mais do que lhe foi entrega.

3) Pleno
Procura pautas, cria sua lista de fontes, escreve, edita textos, olha oportunidades e possibilidades em qualquer tema. Este é o profissional que muitas vezes debate, argumenta profundamente com editores e repórteres sobre cada ponto, sugere e estuda minuciosamente, analisa números cruza referências e opiniões, tem capacidade de produzir em todas as etapas, ou seja tem capacidade de gerir e influenciar intelectualmente.

Um detalhe curioso é que principalmente no Brasil (mas não apenas) quase todo o contingente de infografistas não possui jornalistas de formação em suas equipes, mas a maioria é composta por ilustradores, artistas gráficos, então é natural que a visão da infografia (nas redações) seja a de profissionais artistas mas não jornalistas, talentosos porém artistas.
Infografia é jornalismo, mas estamos nos preparando conceitualmente ou estudando ferramentas de design apenas?
Vejo muitos colegas que estão preocupados em estudar HTML, Java ou aprender 3D, isso é absolutamente importante, mas não é o principal. Concordo com o Alberto quando ele diz que qualquer um pode pensar infografia, mas vejo a infografia preocupada com visual e pouco com jornalismo.

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