Ao longo dos 22 nos que trabalho com infografia interagi com
muita gente de redação, de jornalistas a arte-finalistas (existia essas
profissão nos início dos anos 90) de repórteres a ilustradores, de revisores a
cartunistas. Uma gama imensamente variada de conhecimentos, estilos, modo de
vida e logicamente opiniões.
Considero que essa ampla variedade foi decisiva para minha
formação, considero que esse “caldeirão” múltiplo é seguramente responsável por
90% de como penso hoje sobre infografia, ainda que o mundo fora redação não
tenha idéia do que é um infografista sinto que ser um me dá oportunidade de
exercer uma profissão singular, e isso no mundo atual é uma exceção. O universo
da infografia, mesmo sendo minúsculo é fervilhante nos debates acalorados, com
questões que vão do famoso estético ou analítico da discussão semântica
infográfico ou infografia, e também da expressão arte significar infografia.
Neste cenário a profissão se apareceu, evoluiu, mas ainda
não se explicou plenamente.
Infografia é jornalismo?
É arte?
É design de informação?
Nos não muitos materiais publicados sobre infografia existem
opiniões absolutamente opostas, e assim sendo não existe consenso. O ponto de
une todas as opiniões é:
A infografia veio para ficar.
Independente da plataforma, impressa ou digital, é fato que
ela cresce continua e expressivamente e não existe nada que indique retração,
assim sendo estamos diante de alguns impasses, porém vou me ater a apenas um
deles.
Se uma área cresce, é natural que os profissionais que vivem
dela se especializem em conceitos e ferramentas para obter resultados que
venham a alavancar sua profissão. Partindo desta premissa, então a questão
primordial é:
Os infografistas estão se especializando em quê?
Conceitos ou ferramentas de produção?
Tenho participado de algumas conversas que me motivaram a
meditar sobre a forma como nos preparamos. Falo com quem como eu respira
infografia todos os dias, mas que a cada novo trabalho se defronta com
conceitos subjetivos.
Quem nunca ficou frustrado ao idealizar um trabalho, no qual
todos os passos como pauta, conceito, hierarquia, informação e narrativa foram
atingidos plenamente, porém este esforço se mostrou inútil durante o processo
de edição?
Em muitas conversas que tive com Alberto Cairo falamos sobre
isso e entendo que o maior problema reside de fato nos próprios infografistas,
e aí eu me incluo.
Nós fazemos ou pensamos infografia?
Nós fazemos jornalismo ou arte?
O debate jornalismo ou arte acaba sempre desembocando em
expressões que não geram nenhum resultado prático. O fato é simples trabalhamos
em jornais e revistas que são empresas jornalísticas, ou seja produzimos
material jornalístico, e como tal devemos entender o processo.
Sendo assim, então todos os infografistas pensam
jornalisticamente?
Presenciei muitos casos em que o jornalista responsável, seja
ele repórter ou editor não apenas mostraram que a linha de raciocínio do
infografista estava errado como era completamente subjetivo. Argumentos como
bonito, impactante, compor, e equilibrar eram facilmente refutados pois não
tinham fundamentação.
Em muitos casos o repórter estava correto, mas naqueles em
que não estava utilizava o histórico a seu favor para conduzir conforme sua
visão. Em simples palavras muitos não acreditam na capacidade jornalística dos
infografistas.
A cultura centenária das redações ainda é a dos textos acima
de qualquer outra forma.
Jornalistas formulam, infografistas executam.
O maior exemplo que vi foi um jornalista decidir as cores,
espessuras de fio e a qualidade das ilustrações que compunham o infográfico, o
mais curioso é que ele foi atendido prontamente. Isto demonstra que ainda que
um jornalista não tenha nenhum conhecimento técnico sobre design, hierarquia
visual, composição ou teoria da cor ele detém a opinião final.
Como então podemos debater sobre assuntos de seu domínio
como pauta e apuração?
Sendo jornalistas.
Conhecendo os conceitos com a mesma profundidade.
Não se debatem idéias sem preparo, não se discute jornalismo
sem conhecer jornalismo.
Quando me deparo com frases como:
infografistas não tem que fazer pauta, isso é trabalho para
a redação. Com a nítida afirmação que não somos.
Na maioria das redações do Brasil e do mundo a infografia é
um braço da editoria de arte, até aí nada de errado, mas esse fato reforça que
infografia é um crossover nas redações, não é jornalismo em sua totalidade nem
arte. Por conseqüência vejo o mesmo em relação a profissão de infografista, não
é jornalista nem artista.
Esse é o grande desafio, estabelecer o jornalismo visual,
Aprecio imensamente o jornalismo, e apesar de não ser um com
formação acadêmica me considero um. É imensamente gratificante pensar da pauta
ao infográfico pronto, produzindo em todas as etapas, mas não solitariamente, a
infografia é também exercício de sinergia, assim como o jornalismo tradicional.
Não existe matéria produzida por apenas uma pessoa, durante sua apuração e
edição é comum ver jornalistas discutindo profundamente detalhes, pontos de
vista e viés.
A infografia por ser multidisciplinar é um laboratório a
cada trabalho, desperdiçar o pensamento coletivo é limitar o potencial de um
trabalho.
Antes de tudo é necessário uma reflexão individual sobre que
tipo de infográfico produzimos, e qual é minha atividade como infografista.
Acho que podemos dividir em três níveis distintos:
1) Passivo
Seria o que nos anos 90 chamávamos de arte finalista. Recebe
um trabalho que já foi idealizado por alguém, mas a atividade se resume a
organizar, sendo o infografista apenas um profissional que organiza e deixa
“bonito” (expressão popular nas redações).
2) Pró-ativo
Recebe uma pauta escrita e definida, mas pesquisa para
encontrar algo além do que foi proposto. É o profissional que confronta, tenta
somar e analisa as possibilidades, que sempre acredita que existe mais do que
lhe foi entrega.
3) Pleno
Procura pautas, cria sua lista de fontes, escreve, edita
textos, olha oportunidades e possibilidades em qualquer tema. Este é o
profissional que muitas vezes debate, argumenta profundamente com editores e repórteres
sobre cada ponto, sugere e estuda minuciosamente, analisa números cruza
referências e opiniões, tem capacidade de produzir em todas as etapas, ou seja
tem capacidade de gerir e influenciar intelectualmente.
Um detalhe curioso é que principalmente no Brasil (mas não
apenas) quase todo o contingente de infografistas não possui jornalistas de
formação em suas equipes, mas a maioria é composta por ilustradores,
artistas gráficos, então é natural que a visão da infografia (nas redações) seja a de profissionais
artistas mas não jornalistas, talentosos porém artistas.
Infografia é jornalismo, mas estamos nos preparando
conceitualmente ou estudando ferramentas de design apenas?
Vejo muitos colegas que estão preocupados em estudar HTML,
Java ou aprender 3D, isso é absolutamente importante, mas não é o principal.
Concordo com o Alberto quando ele diz que qualquer um pode pensar infografia,
mas vejo a infografia preocupada com visual e pouco com jornalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário